Marcha pela ciência – Cientistas vão às ruas em mais de 500 cidades pelo mundo
‘Marcha pela ciência’ aconteceu neste sábado, em mais de 20 municípios no Brasil
RIO — Pesquisadores de mais de 500 cidades do planeta protestaram no ultimo sábado, 22/04/2017- para protestar em defesa da ciência. A iniciativa, batizada de Marcha pela Ciência, nasceu nos Estados Unidos, como uma reação ao discurso anticientífico do presidente Donald Trump, e se espalhou pelo mundo. Manifestações estão programadas para mais de 600 cidades, em quase 70 países, incluindo 24 no Brasil.
Em Porto Alegre, o ato ocorre no Parque da Redenção a partir das 11h. Na cidade de São Paulo, o evento será no Largo da Batata, em Pinheiros, onde pesquisadores esperam chamar a atenção da população para uma situação que a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, descreve como “catastrófica”.
— Em mais de 50 anos trabalhando com ciência, eu diria que esses últimos anos têm sido desesperadores — diz ela, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O orçamento federal destinado à ciência e tecnologia está em queda desde 2014, apesar do número de pesquisadores, mestres e doutores formados no Brasil continuar crescendo ano a ano. No último contingenciamento anunciado pelo governo federal, em março, o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi reduzido em 44%, de R$ 5 bilhões para R$ 2,8 bilhões.
Segundo pesquisadores, o valor não é suficiente nem para pagar os projetos já contratados e outros compromissos assumidos em anos anteriores.
— Um corte de 44% não é um corte, é uma amputação — diz o ecólogo Thomas Lewinsohn, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pelos cálculos da SBPC, de cada R$ 100 gastos pelo governo federal atualmente, só R$ 0,32 são destinados à ciência e tecnologia.
— As universidades já estão à míngua. A ciência e tecnologia não é mais míngua, nem pão e água – talvez água, porque pão não vai ter para todo mundo — afirma a presidente da SBPC
— O reflexo mais drástico é que a gente está fadado a nunca pertencer ao mundo desenvolvido. Não existe chance de a gente voltar ao caminho do crescimento sem investimento em ciência — diz a pesquisadora Nathalie Cella, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), que, motivada por um grupo de alunos, assumiu o papel de organizar a Marcha pela Ciência em São Paulo.
O evento começará às 14 horas e, apesar do nome, não será uma marcha propriamente dita, mas uma concentração no Largo da Batata. Até ontem, 1,7 mil pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook.
— Eu ainda tenho uma certa esperança e um otimismo de que as coisas vão melhorar, mas não acho que isso vai acontecer se as pessoas ficarem sentadas esperando — diz Ricardo Maia, de 24 anos, aluno de mestrado do ICB-USP, que também participa da organização do evento.
O MCTIC informou que está avaliando o impacto da redução orçamentária e pediu aos seus institutos que apresentassem prioridades e necessidades para 2017, na expectativa de que parte dos recursos seja descontingenciada ao longo do ano.
‘TESOURAÇO’ NO RIO
Diante dessa realidade, os organizadores da marcha carioca resolveram fazer um “tesouraço”, em alusão aos cortes promovidos tanto no âmbito nacional, quanto no estadual. O protesto, que acontecerá na Quinta da Boa Vista, na Zona Norte do Rio, às 10h, terá como som ambiente uma trilha feita especialmente para o evento, composta por ruídos produzidos por tesouras. Os organizadores pedem ainda que cada manifestante leve uma tesoura sem ponta ou uma réplica feita de papelão.
— Essa marcha tem um caráter mundial e, aqui no Rio, escolhemos o mote “conhecimento sem cortes”. Estamos preocupados e queremos chamar atenção da sociedade para o problema. Os laboratórios da UFRJ estão começando a parar por falta de recurso — conta Tatiana Rappaport, professora do Instituto de Física da UFRJ e organizadora do evento no Rio.
Até o momento, a organização da marcha contabilizou 23 cidades brasileiras que participarão do evento. Entre elas, São Paulo, onde a manifestação acontece às 14h, no Largo da Batata; Belo Horizonte, com protesto previsto para 10h, na Praça da Liberdade; e Recife, no Marco Zero, às 14h. Os interessados em participar dos protestos podem acessar um mapa on-line. Através dele, é possível identificar as cidades participantes, horário e local das manifestações.
AUSTRÁLIA FAZ PRIMEIRA ‘MARCHA PELA CIÊNCIA’ DESTE SÁBADO
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